25/12/2007

Batalha Espiritual - E não foram à guerra...

Buscaram os seus próprios interesses e não foram à guerra...

Quando toda guerra acabar a pergunta será: como nos comportamos nesse tempo de batalha?

Vimos na postagem anterior que Débora e Baraque olham para trás e num cântico profético lembram de como cada um se comportou no tempo da batalha. Consideramos até aqui aqueles que participaram da guerra do Senhor. Esses foram lembrados com louvor. Entretanto, outros foram lembrados com tristeza e reprimenda. Queremos considerar a situação destes últimos agora.

Como já mencionamos anteriormente, temos nesse cântico de Débora uma figura daquilo que ocorrerá um dia, quando todos nós nos apresentarmos diante do tribunal de Cristo. Ali receberemos o louvor ou a reprimenda por aquilo que fizermos durante esse tempo presente (2 Coríntios 5:10, Mateus 25:14-30).

Não nos alegra descrever essa parte do cântico de Débora. Mas como ela é necessária! A Palavra do Senhor sempre nos exorta: encorajando-nos e advertindo-nos. Podemos dizer que até aqui, tivemos uma palavra de encorajamento, mas a nossa reflexão agora, seguindo o que está registrado no cântico de Débora, leva-nos a uma palavra de advertência. Que o Senhor possa, pelo Seu Espírito, acordar-nos para o momento presente em que vivemos e que possamos assumir a nossa responsabilidade nessa questão da batalha espiritual, principalmente no aspecto corporativo.

Por que alguns não foram à peleja junto aos demais dos filhos de Israel?

O primeiro que é mencionado é Rúben. Não foi à guerra porque ficou cuidando dos seus próprios interesses!

"Nas correntes de Rúben foram grandes as resoluções de coração. Por que ficaste tu entre os currais para ouvires os balidos dos rebanhos? Nas divisões de Rúben tiveram grandes esquadrinhações do coração”. (v. 5:15b-16 – Versão Revista e Corrigida)

Houve grande esquadrinhamento de coração entre os Rubenitas. Eles estavam lá pensando, refletindo sobre a batalha e houve grandes decisões em seus corações. Há algumas traduções que dizem que eles fizeram grandes projetos. Eles ficaram sabendo que seus irmãos estavam na peleja contra um grande opressor dos filhos de Israel, e então se planejaram em como poderiam ir à peleja. Fizeram grandes projetos de como iriam e ajudariam seus irmãos. Mas não foram! Permaneceram cuidando dos seus interesses.

Muitos de nós ainda estamos como os Rubenitas. Nesse tempo de guerra, ficamos apenas nas decisões, nos projetos, no esquadrinhamento de coração, mas nunca colocamos em obra aquilo que decidimos. Eles resolvem em seus corações, mas não tomam nenhuma atitude. São aqueles que gostam de estudar tudo sobre batalha espiritual, mas nunca entram na batalha por si mesmos ou em favor dos demais do povo de Deus! Gostam de coisas do tipo, “10 passos para alcançar a vitória”, ou “10 passos para vencer o pecado”. Sabem muitas coisas a respeito da batalha espiritual, mas apenas de ouvir falar. Falam e exortam uns aos outros de que é necessário batalhar em oração por tais e tais assuntos, mas nunca colocam em prática aquilo que proclamam. Estão muito bem informados da realidade espiritual, mas apenas no campo teórico. Ainda não conheceram o que é estar no campo da batalha.

Os Rubenitas de hoje, são como muitos de nós que fazem grandes resoluções de fim de ano. Conhecemos as nossas próprias necessidades espirituais, e por isso decidimos que no ano que se inicia faremos muitas coisas. Fazemos muitos planos: “vou dedicar-me à vida de oração nesse ano”, “esse ano não vou mais praticar aquele pecado”, “vou me esforçar na pregação do evangelho, quero ganhar pessoas para o Senhor nesse ano...” a lista é grande. Muitas e boas decisões! Mas todas ao final, ficam no vazio! Nada é realizado em favor do Senhor e do Seu povo.

Oh amados, grandes resoluções ou grandes decisões não bastam! Não é suficiente apenas “esquadrinhamentos de coração”. Não podemos ter apenas os grandes conceitos ou princípios espirituais na nossa mente, ou ainda um grande vocabulário espiritual. Não! É necessário, pela ajuda do Espírito do Senhor, colocarmos por obra aquilo que sabemos ser a vontade de Deus. A guerra está acontecendo e sabemos que o Senhor nos chama para sermos participantes dela. Muitas vezes decidimos ir, mas acabamos ficando. Por que? Nos é dito de Rúben que ele não foi à guerra porque “ficou entre os currais para ouvir os balidos dos rebanhos”.

“Oh, que coisa louvável”, poderíamos, justificar. Parece-nos que os Rubenitas estavam se mostrando responsáveis com suas casas, suas famílias. Eles ficaram cuidando das ovelhas, buscando o seu sustento. Mas, meus queridos, em tempo de batalha ficar escutando o balido das ovelhas é preocupar-se com nossos próprios interesses. Muitas coisas estavam acontecendo; o inimigo de Deus estava oprimindo duramente, mas os Rubenitas estavam cuidando das suas coisas. Os “Rubenitas atuais” são assim: tomam a decisão, mas tem em seguida uma desculpa para não irem. Uma desculpa para “apaziguar” suas consciências. Percebem as lutas que os filhos de Deus estão travando, mas encontram uma desculpa para não participarem da batalha e justificam a si mesmos.

A pergunta feita a Rúben foi: “Por que ficaste tu entre os currais para ouvires os balidos dos rebanhos”? E porque foi feita essa pergunta a ele? Por que Rúben não devia ter ficado escutando o balido das ovelhas, mas ele devia estar lá no monte escutando o toque da trombeta. Quanta diferença! Muitos de nós temos às vezes grandes decisões, mas nunca as colocamos por prática. Às vezes nós estamos tão preocupados com nossos próprios interesses que esses nos impedem de participarmos da batalha do Senhor. Paulo, escrevendo aos Filipenses, diz que muitos buscavam os seus próprios interesses, e não aquilo que era de Cristo Jesus, mas que Timóteo, sinceramente, buscava os interesses dos irmãos! (Filipenses 2:20-21)

Quantas vezes podemos estar ouvindo o balido das “nossas ovelhas”, enquanto a trombeta de Deus tem soado chamando os seus filhos para a batalha. A batalha a favor dos nossos filhos tem sido travada, o inimigo tem buscado tirá-los da vida com Deus, mas nós nos entregamos aos nossos interesses e nem mesmo no nosso secreto batalhamos em oração em favor deles. A igreja do Senhor tem estado em grande apostasia, em grande mistura daquilo que é verdadeiro com a mentira, mas nos silenciamos, até pensamos em ter uma vida de oração em favor do povo de Deus, mas finalmente ficamos envolvidos nos nossos interesses e não temos tempo para participarmos nessa batalha.

A trombeta está soando! Que o Espírito do Senhor nos desperte para irmos à batalha e deixamos as “nossas ovelhas” nas mãos daquele que pode guardá-las para cada um de nós.

Que o Espírito do Senhor nos ajude, e que naquele dia no tribunal de Cristo, o Senhor não nos chame a atenção: "você teve grandes decisões, grandes projetos, mas por que não foi à batalha? Por que escolheu ficar ouvindo a voz dos seus próprios interesses?”

O segundo a ser citado é Gileade. Não foi à guerra por causa dos obstáculos naturais!

“Gileade ficou dalém do Jordão...” (Juízes 5:17)

Para que os Gileaditas fossem ao monte Tabor, de onde os filhos de Israel saíram para a guerra, eles deveriam atravessar o Jordão.

Creio que o registro do Rio Jordão aqui é para nos lembrar que muitas vezes podemos deixar de ir ao campo de batalha junto com os nossos irmãos porque nos justificamos em decorrência de obstáculos naturais. “Atravessar o Jordão” para muitos de nós pode ser trabalhoso e se ele estiver na cheia pode até mesmo ser perigoso. E por isso então, da mesma forma que os Rubenitas, os Gileaditas encontram algo para apaziguarem suas consciências se desculpando por terem à sua frente algum obstáculo natural. Mas o verdadeiro motivo é que nos seus corações de fato não desejavam ir a guerra. Quanta diferença entre eles e Zebulom e Naftali. Esses últimos expuseram as suas vidas correndo grandes riscos, mas foram à batalha e venceram! Entretanto, os Gileaditas são lembrados aqui de modo negativo.

É muito comum, mesmo nas questões pequenas do nosso dia-a-dia, colocarmos muitos obstáculos naturais para não estarmos identificados com o propósito do Senhor. Tome como exemplo as vezes que temos diante de nós as reuniões do povo de Deus, seja para lembrar do Senhor no partir do pão, ou de oração ou mesmo para estudo da Palavra. Às vezes colocamos os obstáculos naturais como desculpa para não participarmos dessas reuniões. Se começa a chover, ou se o frio aumenta, é suficiente para deixarmos de participar e ficamos no conforto das nossas casas. Outras vezes estamos trabalhando muito e o nosso dia é tão atarefado que nos sentimos cansados fisicamente e por isso decidimos ficar em nossas casas, e perdemos a oportunidade de sermos abençoados e fortalecidos.

Deixamos de batalhar as batalhas do Senhor por causa de obstáculos naturais. Temos conhecido muitos dos filhos de Deus que ao contrário dessa situação, mesmo em momentos de debilidade física, e a despeito de todo e qualquer obstáculo natural, ainda assim são verdadeiros soldados do Senhor Jesus. São incansáveis na pregação do evangelho, nas vigílias, nos jejuns, nas orações, “combatendo o bom combate”. Para esses vale a palavra do Senhor: “aos que me honram, honrarei”, mas para aqueles que ficam aquém do “Jordão”, a palavra do Senhor é “porém os que me desprezam serão desmerecidos”. (1 Samuel 2:30)

Que o Senhor nos dê um coração disposto a atravessar o “nosso Jordão” e nos identificarmos com o Seu propósito e estarmos juntos no campo de batalha com aqueles que ouviram o toque da trombeta!

"Dã, por que se deteve junto a seus navios?" (v. 5:17)

Navio nos lembra de comércio. Trazer mercadoria, levar mercadoria, transações comerciais. E essa foi a razão que impediu Dã.

Dã nos lembra aqueles que não vão ao campo de batalha por causa do dinheiro.

Este é um motivo que tem levado muitos do povo de Deus a não participarem do propósito do Senhor, e não irem ao campo de batalha. Mamom tem roubado o coração de muitos dos filhos de Deus.

Amados, essa situação terrena de busca de riqueza, busca de uma vida confortável, tem oprimido o povo de Deus impedindo-o a combater o bom combate. E quantos têm naufragado na fé! Paulo adverte a Timóteo quanto a esse risco: “Tendo sustento e com o que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor ao dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores”. (2 Timóteo 6:8-10)

Há muitos santos de Deus que estão bem na carreira cristã, mas de repente não vigiam, e eis que surge esse tirano: desejo das riquezas! Desejam ter uma casa melhor, um carro do último modelo... Não há nada injusto nisso em si mesmo. Mas isso se torna um tirano em seus corações. Os seus corações ficam sobrecarregados com os cuidados dessa vida (Lucas 21:36). Por isso, eles têm que trabalhar mais. Ao invés de estar com a família, ao invés de estar lendo a Palavra, buscando ao Senhor, eles estão lá, trabalhando muito, pois querem ganhar um pouco mais de dinheiro. Alguns já têm um emprego, mas eles também precisam do segundo, e do terceiro. Essa é a situação: “Por que se deteve junto aos seus navios”?

Como essa palavra é tão atual para nós! Por que se deteve? Na verdade é justo e correto ter os nossos navios, eles são o suprimento de Deus para nós. É o nosso trabalho, os nossos negócios, mas a palavra de advertência é porque nos detemos neles. Porque o nosso coração está preso neles? Porque eles se tornam um impedimento para que participemos no campo de batalha e assim experimentemos a vitória que o Senhor quer nos dar? Quão perigoso é esse deter nos nossos navios. Alguns participavam das reuniões da igreja, evangelizavam, visitavam os enfermos, tinham uma vida de oração, mas agora eles não têm tempo para nada além dos seus negócios. Estão muito preocupados com as suas riquezas, os seus bens, a sua vida confortável, com aquilo que o seus ganhos podem gerar.

Que tragédia tem sido isso no meio do povo de Deus. Quantos irmãos sinceros têm se deixado seduzir pelos seus navios. Quanto prejuízo espiritual tem acontecido por causa disso.

Ouçamos a palavra do Senhor Jesus: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”. (Mateus 6:33)

"Aser se assentou nas costas do mar, e repousou nas suas baías”.(v. 5:17)

Os Aseritas não foram à guerra por estarem preocupados com o seu próprio conforto!

Repousaram nas suas baías”. Esta atitude dos Aseritas representa aqueles que, mesmo no tempo de guerra, estão preocupados com o seu próprio conforto.

Quão diferente era a atitude do nosso Senhor! Quão incansável era ele. E ele mesmo nos deu o Seu testemunho de que o “Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça” (Mateus 8:20). O Filho do Homem somente pode descansar depois de completada a sua carreira. Depois do brado da cruz – “está consumado!” – é que ele pode descansar. Durante toda a sua vida não buscou seu próprio conforto, mas pelo contrário, “andou por toda a parte fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo” (Atos 10:38). A sua compaixão o movia em favor das multidões e junto com os seus discípulos “eles não tinham tempo nem para comer, visto serem numerosos os que iam e vinham” (Marcos 6:31).

Paulo também, no mesmo espírito do Senhor Jesus, desenvolveu a sua carreira. O testemunho dele foi de que ele como ministro de Cristo, passou por tantas coisas, como perigos de morte, acoites, trabalhos e fadigas, vigílias, fome, sede, jejuns, frio, nudez... (veja 2 Coríntios 11:23-33). Passou por tantas coisas por amor ao Senhor e ao Evangelho! Nunca foi atrás do seu próprio conforto! Nunca “assentou-se nas costas do mar, e repousou nas suas baías”! Mas ao contrário, escutou o toque da trombeta e como soldado de Jesus Cristo combateu o bom combate!

Queridos irmãos, certamente gostamos do nosso conforto. É justo. Mas esse nosso conforto não pode nos impedir de nos identificarmos com o propósito do Senhor e avançarmos naquilo que é a Sua vontade para as nossas vidas e para o Seu povo.

Quem sabe não é o momento de fazermos a “indagação de uma boa consciência para com Deus” (1 Pedro 3:21). Será que a busca do nosso próprio conforto tem sido a motivação para não participarmos da batalha do Senhor?

O Senhor através do profeta Amós advertiu o povo nesse sentido: “Ai dos que andam a vontade em Sião...que dormis em camas de marfim, e vos espreguiçais sobre o vosso leito, e comeis os cordeiros do rebanho e os bezerros do cevadouro; que cantais à toa ao som da lira e inventais, como Davi, instrumentos músicos para vós mesmos; que bebeis vinho em taças e vos ungis com o mais excelente óleo, mas não vos afligis com a ruína de José” (Amós 6:1, 4-6).

Rúben, Gileade, Dã e Aser, foram lembrados nesse cântico de Débora por que não foram à batalha pois estavam muito preocupados consigo mesmos. Que o Senhor nos ajude e nos livre de cairmos em mesma situação!

Em Cristo, aquele que não buscou agradar a si mesmo, mas por todos nós se entregou,

BP

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Abaixo seguem os links para as demais postagens dessa série:
Batalha espiritual
O ressurgimento de inimigos vencidos no passado
O primeiro passo no caminho da vitória
A Palavra de ordem do Senhor
Experimentando plena vitória
O Cântico de vitória e os vencedores
E não foram à guerra...
Recebendo benção ou maldição

10/12/2007

Batalha Espiritual - O Cântico de Vitória e os Vencedores

“Naquele dia cantaram Débora e Baraque...” (Jz 5:1)

Caríssimos:

Na nossa meditação até agora procuramos mostrar alguns princípios básicos na questão da batalha espiritual. De um modo geral procuramos nos ater àquelas verdades emanadas da Palavra de Deus concernentes a como nos portar nesse tempo de guerra seja contra a carne, o mundo ou o diabo.

Em Juízes 4, Débora olhava a batalha numa perspectiva futura. Mas em Juízes 5, o seu olhar volta-se para o passado, para o que aconteceu durante o tempo da batalha.

Como mencionamos em postagens anteriores, temos nesse capítulo 5 uma figura muito viva do que acontecerá no tribunal de Cristo. Naquele dia, diante do Senhor, em uma grande reunião da família de Deus, Ele irá relembrar a situação de cada um de nós, de como nos comportamos durante o tempo presente de batalha. E naquele dia cada um de nós receberá do Senhor o Seu elogio ou a Sua reprimenda.

Entretanto, antes de prosseguirmos, deixe-me apenas colocar alguns pontos importantes a respeito dessa verdade tão crucial para os filhos de Deus, mas tão pouco pregada e ensinada que é o “tribunal de Cristo”. Não darei o fundamento do que afirmarei a seguir. Talvez faça isso num momento futuro caso venhamos a tratar especificamente sobre a volta do nosso Senhor Jesus. Mas, caso você tenha alguma dúvida no que afirmarei e queira a fundamentação, você pode mencionar isso nos comentários no final dessa postagem ou encaminhar-me um e-mail que responderei da melhor forma que eu puder.

Na volta do Senhor Jesus, antes de ser inaugurado o Seu reino milenar (Ap 20:1-6), acontecerá nos ares o tribunal de Cristo, no qual todos nós – somente os filhos de Deus, os salvos, os remidos pelo sangue do Senhor Jesus – vamos comparecer (2 Cor 5:10). Nesse tribunal as obras dos cristãos – e não os cristãos­ – serão julgadas, serão provadas (1 Cor 3:12-15) por aquele que tem os olhos como chama de fogo (Ap 1:14). Enquanto os cristãos comparecerão diante desse tribunal antes do reino milenar, os incrédulos comparecerão diante do trono branco ao final desse reino (Ap 20:11-15).

Nesse tribunal serão concedidos os galardões para aqueles que permanecerem fiéis ao Senhor no tempo presente. Entretanto, há a possibilidade de um crente genuíno perder privilégios reservados para ele na volta do Senhor, muito embora a sua salvação eterna esteja assegurada. Como nos diz em 1 Cor 3:15 “...sofrerá ele dano, mas esse mesmo será salvo, todavia como que através do fogo”.

Na verdade, o maior privilégio que será concedido ao cristão no tribunal de Cristo é poder reinar com Ele no seu reino milenar. Por isso as Escrituras nos advertem: “...desenvolvei a vossa salvação com tremor e temor” (Fp 3:12). Tudo aquilo que não tenhamos tratado diante do Senhor no tempo presente, e que não tenha sido confessado e apagado pelo sangue do Senhor Jesus, aparecerá naquele dia. As Escrituras nos exortam a acertarmos os nossos caminhos hoje com o Senhor, nunca amanhã. Como por exemplo, nos é dito para não se por o sol sobre a nossa ira (Ef 4:26), ou seja, não podemos deixar acabar o dia sem resolver essa questão diante do Senhor.

Ah, meus queridos, quantas coisas terríveis muitos dos filhos de Deus carregam por tantos anos e nunca acertam diante do Senhor. Quantas desavenças entre irmãos em Cristo que nunca são acertadas, nunca há o perdão mútuo. Certamente quando o Senhor voltar tudo será trazido à luz. Hoje, agora, é o tempo de acerto! Aquilo que o sangue do Senhor apagar de modo algum irá aparecer no tribunal de Cristo. Por isso João, o apóstolo, nos exorta em sua carta dizendo “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele, para que, quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados” (I Jo 2:28).

Como temos nos comportado no tempo presente da batalha? Veremos que no cântico de Débora há algumas pessoas que são lembradas com elogio e outras com reprimendas e até sendo amaldiçoadas! Você se lembra da parábola dos talentos em Mateus 25? Houve servos que foram elogiados pelo seu senhor e outro que foi repreendido e amaldiçoado. Ó, quão sério é isso! Isso é um quadro do que acontecerá no tribunal de Cristo. Que o Senhor pela Sua graça e misericórdia nos ajude no tempo presente.

O cântico de Débora é o cântico dos vencedores! Daqueles que estiveram no campo de batalha e experimentaram a vitória. Ninguém pode cantar esse cântico a não ser um vencedor. Não é o cântico da nossa salvação. Não é a alegria da salvação que está sendo celebrada, mas o regozijo pela vitória que o Senhor nos concedeu no campo de batalha.

Quando o povo de Israel atravessou o Mar Vermelho, eles também cantaram um cântico. Mas esse cântico de Moisés nos aponta para o cântico da redenção. O povo de Deus foi redimido, foi tirado do Egito. Todo o povo, todos os filhos de Israel, puderam entoar esse cântico. Da mesma forma todos os filhos de Deus participam do cântico da redenção. Mas, um cântico como o que Débora entoou, somente pôde cantar aqueles que estiveram no campo de batalha e experimentaram a vitória.

Você se lembra daquela situação que Paulo e Silas passaram? Depois de pregarem a Palavra de Deus experimentaram oposições terríveis, mas apesar disso permaneceram numa posição de vitória! Foram encarcerados, mas à meia-noite entoavam louvores ao Senhor. Não sei quais louvores eles entoavam. Talvez Salmos, ou até mesmo cânticos espirituais que o Senhor tenha dado a eles... ah, mas com toda certeza eram louvores de vitória! Os cânticos dos vencedores!

Somente Paulo e Silas poderiam cantar aqueles cânticos naquele momento. E como esses louvores soaram bem aos ouvidos dAquele que nos conduz à vitória. Tanto é assim que quando Paulo e Silas louvavam, o Senhor manifestou a Sua aprovação, a Sua aceitação daqueles cânticos, rompendo as suas cadeias. É maravilhoso quando podemos entoar ao nosso Deus cânticos assim! Na nossa vida, no dia a dia, há muitas vitórias que experimentamos e quando isso acontece temos um cântico diante de Deus. O fruto da vitória será um cântico de louvor ao nosso Deus!

No momento da batalha pode ser tão difícil a situação, tão terrível muitas vezes. Mas depois que termina, podemos olhar para trás e ver os feitos do Senhor por nós e os Seus livramentos. Vemos que o nosso Deus é o Senhor dos Exércitos! Ele é a nossa fortaleza, a nossa rocha. Ó, bendito seja o Senhor!

Débora, depois de terminada a batalha, olha para trás e junto com Baraque cantam esse cântico profético. Apesar de ser um cântico rico em muitos detalhes, desejo apenas considerar com você aquelas pessoas que são lembradas nele. E quero aproveitar para salientar mais os aspectos da batalha espiritual corporativa ao invés dos aspectos individuais do nosso combate como salientamos na meditação do capítulo 4 de Juízes.

Vamos considerar primeiro aqueles que foram lembrados com elogio.

"Zebulom é povo, que expôs a sua vida à morte, como também Naftali, nas alturas do campo." (5:18)

Zebulom, junto com Naftali, estiveram na batalha e expuseram suas vidas. No capítulo doze de Apocalipse nos fala daqueles que venceram o inimigo. Diz que “Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram, e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida” (Ap 12:11).


Isso nos faz lembrar das palavras do Senhor Jesus: “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho, salvá-la-á” (Lc 935). Essa vida aqui se refere a vida da alma. A palavra traduzida em Lucas e em Apocalipse por vida é a mesma: alma. O que isso nos quer dizer? Está relacionado a negarmos a nós mesmos. A vida da nossa alma (vontade, emoção e mente) deve ser negada para que a vontade, mente e emoção de Cristo se manifeste em nós. Isso significa que seremos como “fantoches” sem qualquer vida? Não! Em absoluto! Mas significa que toda vez que a minha alma estiver em confronto com Deus, eu devo negar a mim mesmo e aceitar aquilo que é de Deus. Como o nosso próprio Senhor Jesus fez: “Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim a tua” (Lc 22:42). Nesse momento o Senhor estava negando a si mesmo. A vontade do Pai é que deveria prevalecer.

Uma das razões porque nossos irmãos venceram o inimigo, como nos é testemunhado em Apocalipse, foi porque não amaram as suas próprias vidas. Na batalha espiritual, se queremos experimentar a vitória, esse também deve ser um caminho trilhado por nós: negarmos a nós mesmos e tomarmos a cruz.

Zebulom e Naftali foram convocados para a batalha e prontamente atenderam ao chamado. Como precisamos de “Zebulons” e “Naftalis” nesses dias de hoje! Quantas coisas têm levado o povo de Deus em cativeiro. Como o mundo tem feito cativo o povo de Deus. Quanta religiosidade entre o povo do Senhor! Uma religiosidade que mantém os filhos de Deus cativos por aquilo que é produzido pelo homem e não pelo Espírito Santo!

Oh, como precisamos de soldados de Cristo que ergam as suas “espadas” pelo Senhor e pelo Seu povo. Soldados que tomem a Palavra de Deus, que é a espada do Espírito, para combater tudo aquilo que pertence às trevas e tem se levantado como verdadeiras fortalezas do inimigo impedindo que os crentes em Jesus Cristo vivam na liberdade dos filhos de Deus! (Gal 2:4). Judas escreveu sua carta, exortando-nos a batalharmos “diligentemente pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos” (Jd 3). Que o Senhor nos dê muitos Zebulons e Naftalis para com amor ao Senhor e aos irmãos, negando a si mesmos, não buscando agradar a homens e a si mesmos, mas a Deus, combaterem o bom combate!

Nessa batalha contra “Jabim” – os nossos próprios interesses, a nossa própria sabedoria, as riquezas, tudo aquilo que é terreno – nós precisamos ter essa atitude de não amarmos a nós mesmos, não amarmos a vida da alma. Devemos perdê-la (negar a nós mesmos e tomarmos a cruz), para depois ganhá-la quando o Senhor voltar. Naquele dia, quando estivermos face a face com o Senhor, vamos ganhar, seremos recompensados. Cantaremos diante do Senhor o cântico de vitória. Ali no tribunal de Cristo serão lembrados aqueles que venceram, aqueles que não amaram as suas vidas, assim como Zebulom e Naftali são lembrados nesse cântico de Débora e Baraque.

Naftali e Zebulom foram convocados para a batalha. Eles tinham a responsabilidade direta de Deus com relação àquele assunto. Entretanto, houve outros que se ofereceram. Eles não foram convocados, mas se ofereceram voluntariamente (v. 5:2) e foram elogiados por isso. Efraim, Benjamim, Maquir e Issacar foram lembrados, pois se identificaram com Débora, Baraque, Zebulon e Naftali e também foram à batalha.

Como isso nos indica a importância para cada um de nós nos identificarmos com as lutas dos nossos irmãos e irmãs em Cristo! De fato, muitas vezes eles é que são convocados diretamente para a batalha, mas devemos nos juntar a eles em seu socorro.

Para elucidar o que quero dizer, pense nas situações em que os irmãos com os quais você convive enfrentam. Por exemplo, uma família pode estar passando por uma tremenda luta com um filho que está envolvido em drogas. Quanta luta para essa família! O combate é terrível em todos os sentidos. E o que fazemos nesse caso? Podemos simplesmente olhar e ficar de longe assistindo o sofrimento daquela família. Mas porque você ama aos irmãos e ao Senhor você se identifica com essa família e vai em seu socorro nessa batalha. Como? No mínimo orando sinceramente por aquele filho e por aqueles pais! Oferecendo o seu amor e simpatia para com aqueles pais no seu sofrimento, encorajando-os a permanecerem firmes no Senhor aguardando o livramento da parte de Deus para o seu filho. Ou pode ser que você se sentirá movido pelo Espírito de Deus a oferecer as suas súplicas em favor daquele jovem com oração e jejum. É apenas um exemplo, mas o fato é que você se identificará com aqueles que precisam de socorro na batalha e o Espírito de Deus lhe guiará no que fazer.

Mas esse fato dessas tribos terem se oferecido voluntariamente para estarem na Batalha junto com aqueles que foram convocados, nos lembra também de que em toda a história da igreja tem acontecido da mesma forma. Há algumas batalhas do Senhor pelo Seu povo que precisam ser travadas. E geralmente o Senhor levanta alguns “juízes” como Baraque, e muitos se oferecem voluntariamente para estarem no campo de batalha juntamente com eles.

Pense no caso da Reforma. Deus levantou a Martinho Lutero para restaurar a verdade da justificação pela fé. Todo o inferno se levantou contra, mas nessa batalha do Senhor, muitos se ofereceram voluntariamente e abraçaram essa causa expondo literalmente as suas vidas por amor ao Senhor e à Sua verdade! Todas essas pessoas que se lembraram do Senhor e participaram dessa batalha serão lembradas com louvor diante do tribunal de Cristo. Os seus nomes estão registrados em um memorial eterno diante de Deus! (Mal 3:16). O Senhor sempre se lembrará deles!

E foi assim em vários períodos da história da igreja. Em cada mover do Espírito Santo em períodos distintos, muitos se identificaram com a causa do Senhor e se uniram na batalha pelo Senhor e pelo Seu propósito para aquele momento específico. Foi assim na Reforma, no movimento da vida interior, no movimento de santidade, no movimento mais conhecido como os irmãos de Plymouth - “Plymouth Brethren” (eles começaram a se reunir apenas no nome do Senhor e foram usados por Deus para restaurarem a verdade da igreja como o corpo de Cristo e muitas outras verdades).

Todos que se identificaram com a causa do Senhor foram vencedores num período tão difícil para eles. Muitas verdades de Deus foram restauradas e nós as desfrutamos no tempo presente por causa desses valentes que o Espírito Santo levantou para batalhar as guerras do Senhor! Os seus nomes serão eternamente lembrados pelo Senhor.

No Novo Testamento você também encontrará muitos registros nesse sentido. Registros daqueles que por causa do amor ao Senhor e aos irmãos combateram o bom combate! Pense em Paulo, o apóstolo. Deus o chamou para um ministério, mas para realizá-lo ele experimentou muitas lutas. E o Espírito Santo deixou registrado na Palavra de Deus, as Escrituras eternas, o nome de alguns que foram em socorro de Paulo. Por exemplo, nos é dito que Priscila e Áquila, cooperadores de Paulo em Cristo Jesus, pela vida de Paulo, arriscaram a sua própria cabeça (Rm 16:3-4). Se uniram a Paulo na batalha pelo Senhor e pelo evangelho.

Louvado seja o Senhor por todos os santos de Deus de todas as épocas que batalharam as guerras do Senhor! Que o Espírito Santo possa levantar muitos soldados de Cristo nos dias em que vivemos!

Continuaremos na próxima postagem, se o Senhor nos permitir.

NAquele que coloca em nossos lábios um cântico de vitória,

BP
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